Capacidades técnicas e experiência, além de personalidade compatível e comportamento proativo, são requisitos em processos seletivos para uma vaga ou promoção. Reunir tantas qualidades é difícil e, muitas vezes, no exercício do cargo, deixam de ser devidamente valorizadas.
Por Viviane da Mata.
Em tempos de escassez de postos de trabalho, reformulação de contratos, excesso de exigências e alta competitividade, candidatos costumam se deparar com muitos itens a serem preenchidos para uma vaga. Além de formação técnica consistente, diversificação com cursos complementares e domínio de ferramentas, o perfil comportamental é um aspecto cada vez mais decisivo. Me refiro àquela habilidade que nos faz trabalhar melhor em equipe, tomar decisões em ambientes mais ou menos hostis, lidar com situações difíceis, ser paciente e resiliente: a inteligência emocional. Este foi o tema do último artigo do blog, que felizmente trouxe diversas percepções interessantes e comentários muito bem-vindos dos leitores.
Uma das provocações que surgiram questionava sobre uma suposta incapacidade das empresas em não reconhecer ou valorizar devidamente tal habilidade. Em primeiro lugar, é importante acertar um entendimento para melhor compreensão de todo fenômeno que ocorre dentro de uma organização: ela é feita por pessoas, são pessoas que tomam as decisões e são pessoas que definem suas metas e propósitos. Claro que não considero aqui a concepção do ordenamento jurídico e econômico que interpreta uma empresa como entidade autônoma, com responsabilidades que vão além do seu anterior, presente ou futuro corpo de dirigentes.
É verdade que muito do que se fala sobre gestão de pessoas está mais no discurso e encontra pouca correspondência na prática cotidiana. De fato, várias empresas ainda estão apegadas ao passado, apesar do consenso de que muita coisa mudou, desde as funções até as aspirações dos profissionais. O descompasso é observado principalmente em relação à figura do gestor, que continua sendo mais chefe e autoridade do que um líder, apoio e referência, que motiva e que também precisa ter um perfil emocionalmente inteligente. Nesse modelo desatualizado, o ego e uma boa dose de insegurança, relacionados ao receio de ser ofuscado pelo trabalho da equipe, ainda persistem.
Uma mudança de perspectiva real exige uma nova forma de se compreender gestão. Pede uma cultura centrada no respeito, no cuidado, na construção de objetivos compartilhados e que façam sentido para todos. Para que o trabalho deixe de ser um fardo e se torne construtivo, realizador e propulsor do desenvolvimento. As transformações mais significativas são sempre lentas e encontram muita resistência de todos os lados. Diversos contextos ainda não estão preparados, mas a busca por ambientes mais saudáveis e satisfatórios precisa ser missão de todos.
As dicas mais comuns sobre inteligência emocional costumam ser dirigidas aos profissionais que buscam desenvolver aspectos dessa habilidade de amplo espectro nas suas vidas. A seguir, proponho uma inversão de abordagem, listando atitudes que devem ser tomadas pelas organizações para estarem abertas e conectadas com as pessoas. Pois são elas que dão vida e propósito à sua existência.
- Trabalhar autoconhecimento e autocrítica sobre seus processos, exigências, métodos de avaliação e reconhecimento das equipes.
- Estimular uma comunicação respeitosa, aprimorando a escuta empática, ou seja, reconhecendo que as diferenças são positivas para o crescimento.
- Desenvolver um clima fundamentado mais na cooperação do que na competição.
- Reforçar com frequência sistemática os comportamentos positivos, deixando de lado a cultura do medo, que causa estresse e desgaste emocional desnecessários.
- Promover ações de aprendizagem para que as lideranças conversem sobre suas emoções e práticas de trabalho.
E por último, algo que é sempre bom, seja na vida pessoal ou profissional, seja vindo de gestores, colegas ou familiares: o elogio! Não hesite em destacar as qualidades e conquistas de quem está junto com você nessa jornada. Fazer isso favorece o clima do ambiente, estimula e contribui para o bem geral. E tão importante quanto elogiar é receber com gratidão e respeito os elogios feitos a você. Vale a pena praticar.
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