Atualizar o contrato de trabalho é necessário. Mas não é nada simples.

Opinião
8 de setembro de 2017

* Por Fellipe Freitas

Talvez o tempo em que as pessoas tinham no máximo três empregos durante a vida inteira, ou mesmo completava 30 anos na mesma empresa, seja coisa do passado. A tecnologia, as novas dinâmicas produtivas e o próprio entendimento do trabalho mudaram muito as relações profissionais.

Muitos países pelo mundo estão procurando soluções para modernizar o contrato entre empresa e profissional. E cada um tem seus desafios. Aqui no Brasil, a recém-aprovada reforma trabalhista está longe de alcançar algum nível de consenso fora das casas legislativas. E a urgência inédita colocada para a aprovação desta pauta, juntamente com outra relacionada, a da reforma previdenciária, deixa com um pé atrás até os mais incautos.

O ponto fraco dessas propostas, no caso brasileiro, é sem dúvida, a extrema desigualdade que marca a história e os braços do povo. Ainda vivemos em um país com alto índice de denúncia por exploração de trabalho análogo à escravidão, assédio sexual e moral e não cumprimento de direitos básicos.

Um jovem da cidade com algum respaldo familiar, boa formação e razoável trânsito no mercado de trabalho talvez seja o menos impactado com essas mudanças nas leis trabalhistas. A parte mais vulnerável da sociedade, como trabalhadores domésticos e rurais, da construção civil, com baixa escolaridade, nas cidades mais distantes, estes sim sofrerão com mais intensidade o impacto de contratos de trabalhos com cláusulas mais frouxas.

Um outro aspecto a se considerar é o envolvimento e comprometimento que um trabalhador, sentindo-se desvalorizado e desprotegido, vai ter em relação à empresa em que trabalha. As organizações buscam oferecer benefícios e planos de carreira atraentes para reter talentos. Mas novamente acabo me referindo às posições mais no topo do organograma.

A liberdade que um contrato menos rígido de trabalho pode trazer para a geração de empregos e para a autonomia profissional da pessoa talvez seja um ponto positivo de toda essa mudança que está por vir. A negociação nunca será em pé de igualdade, mas mesmo hoje provavelmente também não seja.

Reformar a previdência ou as leis trabalhistas é um grande desvio de foco em relação às reformas estruturais que a sociedade brasileira precisa e exige. Aumentar os impostos sobre grandes fortunas, heranças e sobre remessas de dividendos ao exterior – que no Brasil está entre os menores do mundo – talvez fosse algo a ser tratado com mais prioridade pelos legisladores.

Independente de qualquer posição política ou partidária, enquanto o desemprego crônico, as péssimas condições de trabalho e o esgotamento do trabalhador não deixarem de ser a regra, viveremos em uma sociedade mais cansada, menos produtiva, mais desigual e muito, muito mais violenta.

* Publicitário, produtor de conteúdo, redator nas horas vagas e nas não vagas também. Vê o cinema como a melhor janela de autoconhecimento e de compreensão do mundo. Editor do site Viviane da Mata e colaborador do blog.

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