Ao assumir uma equipe, muitas perguntas surgem para o novo gestor. Algumas são de natureza técnica e administrativa, enquanto outras são questões de ordem mais subjetiva, como postura, atitude e comportamento. Dúvidas perfeitamente normais para quem está entrando em um terreno novo de atuação profissional. Há empresas que esclarecem bem esses assuntos, outras dão liberdade ao estilo de gestão próprio da pessoa, e também existem as mais protocolares e formais.
Então, existe uma etiqueta profissional diferente que deve ser adotada para o novo cargo de gestão?
O novo gestor pode ficar um pouco inseguro, por exemplo, sobre como deve se comportar com sua equipe e com outros dirigentes da empresa. Uma suposta mudança de atitude pode ser mais delicada, e ficar mais evidente, se o profissional pertencia à mesma equipe da qual agora é “o chefe’’. Será que o dress code deve ser outro? E o tom de voz? Pode-se manter uma relação mais próxima com os colegas ou deve-se adotar um certo distanciamento a partir de agora?
Essas situações não afetam somente a relação pessoal entre o gestor e a equipe, mas se não estiverem bem esclarecidas podem se tornar um problema sério. Quando a forma de falar pode ser interpretada como uma situação de assédio moral? Ou como a forma de se aproximar abre espaço para que alguém ache que está sendo alvo de assédio sexual?
Linguagem e expressão
Uma das competências mais importantes de um gestor é a habilidade de interpretar contextos e pessoas. Além de considerar a individualidade de cada um, existe a influência da cultura corporativa. A maioria das grandes empresas têm códigos claros: umas são altamente flexíveis e abertas, tanto interna (funcionários) como externamente (público consumidor); outras preferem manter-se rígidas em seus processos, nas regras de comportamento profissional e na sua imagem pública.
De toda forma, o modo como se apresenta, seja na roupa ou na forma de falar, é um dos principais recursos de intenção pessoal sobre como o profissional quer mostrar-se à empresa e à equipe. E é fundamental para o sucesso de qualquer propósito que ambos os aspectos – individual e coletivo – estejam alinhados.
Tatuagens à mostra, acessórios mais expressivos, cortes de cabelo ousados e outros elementos de estilo deixaram de ser necessariamente um tabu. Por outro lado, evitar gírias e muita informalidade não é sempre e apenas conservadorismo. Uma linguagem muito solta, íntima demais e pouco técnica prejudica a clareza do processo de comunicação. Este sim um problema que afeta a boa convivência entre as pessoas e o alcance de resultados da empresa.
Cultura corporativa e de mercado
Com o surgimento de uma geração mais questionadora de padrões, muitos locais de trabalho vêm diminuindo as restrições nos seus códigos de comportamento e vestimenta. E não apenas em segmentos criativos, como moda e gastronomia, que sempre buscam personalidade e imagem originais. Grandes empresas de tecnologia, bancos e órgãos públicos também.
Isso tem muito a ver com a cultura. E a cultura é constituída por aspectos mutáveis ao longo do tempo. Ela evolui, é revista, reposicionada e precisa acompanhar as demandas e expectativas de um mundo em transformação. Quem consegue fazer isso com consciência, mantendo a essência, e indo além da superficialidade das ondas do momento, tem muito mais chance de sucesso.
Somos únicos e diferentes, cada um com suas experiências e anseios; mas a construção de qualquer empreendimento é relacional, coletiva e interdependente.
Não é preciso anular o jeito de ser ao assumir um posto de gestão. Até porque características próprias aplicadas no fazer profissional podem ter sido decisivas na ascensão da carreira. Mas as responsabilidades nesse lugar são outras.
Ter a mente e o coração abertos, desenvolver o bom senso, sensibilidade e respeito para reconhecer o outro são atitudes que todos precisamos buscar. Isso deixaria nossos ambientes de trabalho muito mais saudáveis e produtivos. Não são prerrogativas dos gestores, mas para estes tornarem-se líderes de verdade, elas são fundamentais.
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