Por Viviane da Mata
O tema liderança será bastante abordado em nossas conversas aqui no blog. Este é um fenômeno complexo e que nunca deixa de despertar a atenção tanto de acadêmicos quanto de gestores das organizações. Vamos tratar de aspectos práticos e teóricos a fim de compartilhar a visão do mercado e a visão acadêmica. Assim poderemos compreender o exercício e a natureza da liderança de uma forma mais ampla.
Tornar-se líder requer muito mais do que aprendizados técnicos sobre gestão. A partir do momento em que passamos a exercer influência sobre os outros, principalmente em um contexto formal de trabalho, aspectos da identidade precisam ser revistos com profundidade. Assumir esse novo escopo automaticamente requer novas exigências e competências. O recém-gestor, que antes exercia suas atividades sozinho e com responsabilidades técnicas, passa a ter uma equipe sob a sua responsabilidade. A situação vai exigir de imediato habilidades conversacionais distintas e a competência de gerir pessoas.
A liderança é um fenômeno social cotidianamente construído, compartilhado e tecido em uma rede de interdependência. A figura do líder não existe de maneira isolada de suas relações em grupo.
Por que conversar, interagir e intervir?
O que mais um gestor faz é se relacionar. E os relacionamentos ocorrem com diversos atores ao mesmo tempo dentro do contexto organizacional ou do mundo do trabalho. Quando conversamos, o fazemos a partir de quem somos. Os resultados, portanto, vão refletir os padrões conversacionais de cada um, seus modelos mentais e sua concepção sobre o que é liderar o negócio, a equipe e o cliente.
• Liderar o negócio porque assume o desafio de conectar os liderados com a identidade e o propósito da organização, possibilitando o alcance dos resultados almejados.
• Liderar a equipe porque desafia a criar ambientes eficazes, a motivar pessoas e a dar sentido ao fazer de cada um, de modo que todos se sintam parte e tenham orgulho da empresa, contribuindo com entregas mais efetivas.
• Liderar o cliente porque, afinal, na hipótese da sua ausência, uma parte considerável das organizações não existiria. Daí é fundamental saber escutá-lo e traduzir seus feedbacks em melhorias constantes. A resposta será na forma de compra dos serviços e produtos ofertados. E também quando retornam e fazem recomendações positivas.
Ao assumir o papel de líder, o profissional passa a ser confrontado com suas incoerências e fragilidades. Passa a ser questionado e responsabilizado pelas consequências do seu modo de ser e fazer acontecer. Este confronto pode ser visto como uma crise ou como uma oportunidade de mudanças profundas e transformadoras.
Liderar a si mesmo significa ter olhos para ver os pontos fortes, pois eles nos constroem e nos fortalecem. Exige ter a coragem de se encarar com olhos abertos para enxergar os pontos cegos e a própria arrogância. Obriga a observar, observar e observar a si mesmo todo o tempo para compreender de maneira mais profunda seus comportamentos e suas consequências nas relações. Significa acessar o ser humano por trás dos papeis sociais. A liderança orgânica e consciente nos chama para viver uma vida melhor:
• liderando pessoas com mais leveza;
• construindo um ambiente de harmonia e confiança;
• conduzindo as pessoas para a resultados coletivos a partir da responsabilidade de cada um;
• desenhando o alinhamento do propósito comum, não imposto, mas construído.
Robert Greenleaf, autor de Servant Leadership, defende que líderes conscientes focam nos aspectos coletivos e não individuais. Têm a capacidade de inspirar, promover transformações e tirar o melhor de cada um. Compreendem que o seu papel é servir aos objetivos da organização, apoiar as pessoas, criar valor para todos os seus stakeholders. E reconhecem o papel integral da cultura, cultivando propositadamente uma cultura consciente de confiança e cuidado.
Liderar a si mesmo é ter a coragem de ser único, inovador e pensar fora da caixa. É instigar o outro a pensar e mudar sua própria realidade. É se reinventar. É rever paradigmas e crenças limitadoras. É buscar desenvolver novas competências e desafiar-se neste novo aprendizado.
É SER APRENDIZ! Sempre.