
Só há viabilidade de existência no mundo por conta do cuidado. Só há crescimento e desenvolvimento se houver cuidado. Cuidado consigo, com o outro e com o ambiente que compartilhamos. Temos sentido isso de forma extraordinária em 2020. Observamos como os profissionais dedicados a cuidar, acolher, escutar, agir e proteger são os mais requisitados em situações de crise extrema.
Profissionais de saúde, física, mental e emocional; cuidadores de pessoas vulneráveis, como idosos, enfermos e crianças; educadores, pedagogos e voluntários; artistas, pesquisadores e cientistas são fundamentais para manter viva nossa existência como seres humanos.
São estas as pessoas que mantêm mais ou menos firme nosso tecido social e nossa capacidade de sobrevivência. É por isso que são estes os profissionais que não competem de igual para igual com a automação crescente e inevitável que vemos tomar conta das mais diversas funções.
A tecnologia sem dúvida é uma aliada no apoio e no desenvolvimento humano. Hoje é possível fazer uma cirurgia a distância, ministrar aulas online, criar quase tudo com recursos 100% digitais. Porém as inteligências artificiais e bancos de dados que leem e interpretam informações em velocidade e precisão impressionantes não substituem a presença, a criatividade e a empatia, campos de ação essencialmente humanos. Insubstituíveis na qualidade e no resultado.
Nunca precisamos tanto de feedbacks
Somente as habilidades mais humanas são capazes de efetivamente captar dúvidas e anseios e daí buscar soluções que mitiguem as dificuldades. Com criatividade, conexão com o outro e senso de pertencimento conseguimos enxergar a atmosfera de sentimentos tão complexa e turva em que nos encontramos em contextos incertos.
Uma comunicação empática, acolhedora e sincera tem um poder de transformação incrível. Por isso vale a pena pensar sobre essa habilidade, aprofundá-la e aprimorá-la. Nunca precisamos tanto de feedbacks, aquele processo que exige cuidado e sensibilidade do emissor assim como humildade e mente aberta do receptor. Promover essa conversa estruturada, enfática e com propósitos claros é uma ação extremamente importante em um momento de tantas incertezas e quando não sabemos muito onde tudo vai dar.
Uma habilidade instintiva?
Cuidar é uma atitude de respeito que nos coloca frente ao outro em uma visão compartilhada sobre o que nos faz humanos. Mulheres costumam estar mais associadas a esse comportamento, basta pensar na atenção integral que uma mãe precisa dispensar ao recém-nascido. Porém isso não exime ou impede que os homens tenham a mesma atitude, com a mesma importância. Há incontáveis exemplos.
Geralmente elas costumam não se preocupar tanto como os homens – na organização patriarcal de sociedade em que vivemos – em mostrar-se vulneráveis e sensíveis à própria dor e ao sofrimento dos outros. Talvez por isso vivam mais, talvez por isso na crise global de saúde que atravessamos as líderes de nações como Alemanha (Angela Merkel), Nova Zelândia (Jacinda Ardern) e Taiwan (Tsai Ing-wen) sejam as mais bem-sucedidas no controle da propagação da Covid-19.
Cuidar é ação, responsabilidade e princípio, item essencial que não pode ser dispensado jamais, principalmente na incerteza crônica do mundo hoje.